Alheia ao efeito (ou seria defeito?) que causava nele, ela curtia a paisagem, cantarolando Djavan baixinho e marcando o ritmo com os longos dedos de unhas escuras e vários anéis a tamborilar em suas bronzeadas/torneadas coxas.
Na troca de marcha, ela acariciou distraidamente sua mão. Ele sentiu então o que chamavam de frisson ("ah, era isso?"). Olhou de novo para a amada, que ajeitava os óculos escuros no topo da cabeça. Foi tão sexy, mas tããão sexy, que ele jurava ter visto a cena em slow-motion.
Voltou sua atenção para a longa e reta estrada. Mas logo se perdeu em sinuosos devaneios. Como era possível que ela, a-que-la mulher, estivesse ali? Loira, alta, belíssima, de matar qualquer mulher de inveja - e qualquer homem de tesão. Uma mulher que poderia escolher qualquer um, sem exagero, mas que, vejam só, estava com ele. Desde o mês anterior. Desde a festa do Amaral, ocasião em que virou espécie de troféu. Uma mulher-troféu, sim, e que foi parar na sua estante de prêmios. Sabe-se lá porquê.
Música: “...Quando te vi, aquilo era quase o amor ...”
Ela (cantando): ... “Você me acelerou, acelerou...”
Ele: Tive uma idéia.
Ela: Ahã...
Ele: Casa comigo? Casa?
Tomado pela emoção, ou pelo choque ao ouvir suas próprias palavras, parou o carro no acostamento, se atirou nos braços dela e chorou, de soluçar.
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