segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Perspectiva

Ele sempre viveu como se fosse morrer cedo. 
Não que verbalizasse isso: “vou morrer cedo”. 
Mórbido demais.
Mas essa urgência de viver, essa falta de compromisso com as coisas e as pessoas... só podia ser a certeza de que não duraria para sempre. 
Não duraria nem algumas horas, bem dizer.

Era elétrico. Energético.
Despreocupado. 
Mão aberta. Duro e endividado.

Aproveitava até a última gota. 
Ia fundo até o último fôlego.
Vivia do agora,
como se tudo pudesse terminar a qualquer momento.

“E não é isso mesmo?”, dizia sempre, profundo (ou irônico?)
“Atenção, pode ser o último segundo da sua vida”. 
E soltava uma risada meio nervosa, angustiada,
antes de sair agitado atrás de alguma emoção não vivida.

Mas então a conheceu.
...
...
...
E pela primeira vez na vida torceu para que o agora
durasse para sempre.

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