terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Amizade com steinhager

- E se a gente se beijasse? - disse o amigo manguaçado para a amiga também amaciada pela cerveja com steinhager.
- Beijar? Beijar como? 
- Ué, beijar. Na boca.
- E amigos beijam na boca, ô Túlio? - riu, encostando a cabeça no peito dele.
Túlio segurou o queixo da moça, forçando um contato visual: - Amigos podem fazer qualquer coisa. Um selinho. Só pra ver como é. Para de ser chata...
- Bom... selinho tudo bem. 


Rebeca fechou os olhos e sentiu a boca de Túlio. Era bom. Era muito bom, hein? E ficaram ali um tempão, um selinho eterno... Por fim, abriram os olhos em efeito slow motion, cara de bobos. Era muito bom.

- Beca, posso ... - ele ia dizendo. Mas quem disse que a boca-louca de Rebeca deixou? O que veio a seguir foi um senhor beijo, esfomeado, daqueles que só uma boa parede de alvenaria era capaz de suportar. Era um beijo com sincronia e verdade. Paixão e ritmo. E não tinha fim. 

Mas acabou quando algum engraçadinho na rua buzinou e mandou os dois procurarem o motel mais próximo. Eles se encararam: bateu vergonha, dúvida. Resolveram voltar pra festa. "O que a turma deve estar pensando?" Lá, cada um ficou num canto, sorvendo suas bebidas, o que ficou bem esquisito, já que eles eram grudados, ele era o palhaço da turma, ela era a rainha das pistas. Quietos, estranhos. E, assim, a noite se arrastou, com os dois fervendo por dentro, vontade louca de continuar o que faziam lá fora - só banho e cama podiam resolver.

Não resolveu. E eles resolveram conversar. Tinham algumas saídas: fingir que nada tinha acontecido e reestabelecer a amizade, assumir que a amizade foi pro beleléu e curtir o momento, ou terminar tudo: amizade e romance.

- Ou ficar com tudo - falou um Túlio empolgado, cara de "eureca".
- Que quer dizer...
- Ficar com a amizade e a transa. Por que tem que escolher entre uma coisa ótima e uma coisa melhor ainda? Pensa.
- Eu... eu sei lá. Mas, peraí, que transa? 

Sabe-se lá como, Túlio e Rebeca conseguiram ficar com os dois, o que quer dizer lidar também com o ônus de saber tudo um do outro ("olha lá o melhor sexo que você teve, acabou de chegar na festa" ou "eu sei que você morre de tesão pela Cristina..."). Mas a amizade e seus bônus - compreensão, generosidade, companheirismo, entrega, bom humor blablabla - levam vantagem sobre todo o resto. E temperados pela química, então...

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