- Que sorrisinho é esse?
- Mensagem do cara!
- E?
Ela mostra o celular, toda orgulhosa. O whatsapp não deixa dúvidas. O cara requer a presença de Aline. Naquele momento. "Tô te esperando, num demora. C".
Mais que depressa, Aline sacou uma nota de R$ 50 da bolsa, estendendo-a sob a garrafa de cerveja.
- Ei, espera aí. Toma mais uma. A gente acabou de chegar.
- Nem dá, Gil... O cara tá me esperando.
- Eu li, mas é, tipo assim, delivery? Ligou, recebeu em casa?
- Ai amiga, não é isso. Eu tô super na pegada. Nosso lance é assim, sem compromisso. Garçom? GARÇOM! Suspende minha empanada. Tô vazando!
- Então o lance tá resolvido na sua cabeça, que bom! Mas e se ele quisesse namorar?
Já de pé, ela responde de bate-pronto:
- Eu namoraria no ato, gata, é claro.
- E, me diz: esse delivery rola faz quanto tempo?
- Delivery? Ah, sua chata!
- Quanto tempo, hein?
- Ah, acho que uns 4 anos... por aí. É muita química, é pegação... é tão bom, Gil. Tô indoooo...
- Tá, vai nessa, sua louca. Mas e a reunião de amanhã cedo? Você vai com essa roupa mesmo?
- Imagina, vou pra casa depois.
- Pra casa? Tarde da noite? Porque não dorme no cara?
- Eu nunca durmo no cara. Nunca dormi.
- Nunca-nunca? Porque isso?
- Faz parte das regras. Eu acho...
Aline arria na cadeira gelada de alumínio.
- Acha?
- Ele nunca me convidou pra dormir lá. Tipo, acaba nosso amorzinho, eu me arrumo e vou embora. Seja a hora que for... e vou... embora. Pra minha casa, que é longe pra caramba... e...
- E?
- Ele me diz pra eu ligar quando chego em casa, mas nunca atende a porra do celular. Me fala depois que dormiu, que tava cansadão. Mas que fica tranquilo porque vê no dia seguinte que eu liguei.
- Aline...
- Ele se importa, Gil. Do jeito dele, mas se importa, sabe?
- Amiga...
- Ele nunca me prometeu nada e... pô...
- Vem cá, vem. Não fica assim.
As duas se abraçam demoradamente. O garçom olha a cena, comovido - e um tanto excitado.
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