Na verdade, até uma certa idade ela só dizia a verdade.
Formação romano-cristã, tinham ensinado a ela que o certo era ser sincera. E que isso lhe garantia o céu.
Nesta época, dizia a quem queria escutar todas as suas vontades e verdades. Sua vida era como um livro escancarado. Era uma mulher independente e adorava verbalizar isso. Tinha personalidade forte e deixava claro nas suas tomadas de posições. Era bem resolvida, sabia o que queria, como queria, sem papas na língua.
E era sozinha. Tremendamente sozinha.
Hoje as coisas mudaram. Sara mudou. Faz algum tempo que não diz mais a verdade.
No sexo? Ah, no sexo.. ela não ousa dizer que não gozou, nem tenta ser franca e dizer o que realmente a satisfaz. Aquilo parecia inadequado quando ela era adepta da verdade. As caras assustadas – e frustradas - de seus amantes indicavam o caminho ideal para um bom e longo relacionamento. Fingir o gozo, simular o prazer. Hoje, ela finge, e finge bem. Anos de treino a deram a segurança de uma atriz tarimbada na hora do sexo. O papel está internalizado. Ela nem tem mais a esperança de chegar lá espontaneamente. Ou simplesmente a questão do papel a desempenhar não deixe espaço para o prazer verdadeiro. Verdades não cabem em sua cama. Não mais. Hoje ela finge. E ele goza. Sistematicamente.
Essas e outras mentiras, aperfeiçoadas com o tempo, garantiram a Sara, finalmente, um relacionamento duradouro. O namoro com Carlos, ou o milagre, como ela sempre brinca, dura 2 anos.
Anos de mentiras renderam também uma bulimia. Se ela tem que engolir tantas mentiras, não sobra espaço para a comida. Taí uma verdade.
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