Filho
Você aconteceu sem querer. Sem querer no sentido de "sem planejar". Mas eu sempre quis, sem nunca ter pensado seriamente sobre o assunto. E aquele choro todo ao descobrir que você vinha não era de tristeza. Nunca foi. Foi de susto, de espanto, de medo do que não se conhece. E também de gigantescas alterações hormonais. Eu era sensação pura. Tinha alguém dentro de mim. E eu chorei.
Chorei tanto que seu pai, na ânsia de me acalmar, prometeu: "eu deixo ele ser corinthiano". Como se precisasse.
E então você chegou. Era 4 de abril, 4 do 4, domingo quente de Páscoa, bem na hora do almoço, atrapalhando os planos da família, interrompendo o feriado do médico. Afobado, você veio duas semanas antes. Agitado e curioso, guloso e grande demais pra nascer de parto normal.
Disseram que eu te dei à luz. Que nada. Quem veio à luz fui eu.
Naquele 4 de abril, nasceu uma pessoa que eu não conhecia. E o desconhecido não era você. Aos 27 anos, surgiu minha versão mãe. Um lado meu que eu duvidava existir, mas que veio tão natural quanto o leite na sua primeira mamada.
Mas não foi assim, tão fácil. Seu primeiro ano foi feito de choros sem motivo, de cólicas sem porquê, de inúmeras noites em claro que renderam olheiras permanentes. Era a minha insegurança contra a sua teimosia. Difícil. Quase impossível.
Desde um toquinho de gente, você já era especial: cantou antes de falar, falou antes de andar. Um espanto. De molecote, já era um esportista nato. Jogador que chuta com as duas. Raro. Inteligente? Desde sempre. E, de tão esperto, chega a ser displicente. Além disso, preguiçoso, amoroso, musical. Já disse o quão musical você sempre foi?
Entre muito futebol, pouco estudo, boas notas, bons amigos, nada de verdura, muito videogame, você cresceu. Não muito ainda, mas cresceu. Mudou. E agora faz 13 anos. 13. Não é mais criança, mas também não se parece com um jovem. Está no meio-termo, a pré-adolescência, essa grande interrogação.
Fase confusa, que te deixa emburrado sem motivo. E se tem, eu não sei. Época de segredos, dos primeiros amores, de tanta novidade que não consigo alcançar.
Porque em alguns momentos você ainda é tão menino... o mesmo que precisa de um beijo de boa noite, daquela ajeitada no edredom antes de dormir. Mas tão moço que já dispensa meus beijos em público.
A infância acabou. E o que vem agora me assusta.
Você, com 13 anos, me faz lembrar do espanto de 13 anos atrás.
Quando tive medo do que não conhecia.
Mas conheço você, meu amigo, meu amor, meu filho,
e sei que, como sempre, a gente vai ficar junto.
Muito junto.
Você, na sua versão adulta.
Eu, cada vez mais sua mãe.
(2012)
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