E a ansiedade em ver o resultado? Aquela espera gostosa (às vezes angustiante)... Pagava-se até mais pela revelação express, um luxo. E se suas fotos tinham conteúdo mais, digamos, íntimo, era melhor evitar as lojas do shopping. Elas revelavam suas fotos sob o olhar curioso do público. Era uma atração! Vira e mexe apareciam uns nudes. Quase nunca se viam selfies. Também, né, quem gastaria filme com fotos de si mesmo? Quer se ver, vai até o espelho, pô.
Mas então... então vieram as câmeras digitais. E depois os celulares com câmeras. Uma indústria inteira faliu. E a fotografia nunca mais foi a mesma.
Fotografa-se de tudo, várias vezes, de vários ângulos, sob qualquer pretexto. Critério pra que se não precisa "miguelar" o clique? O auto-retrato - ops, selfies - é febre (ficamos mais egóicos?). Fotografar se tornou mais importante do que curtir aquele lugar, aquelas pessoas, aquele momento. Clica, publica, torce pra ser curtido - e sua felicidade chega a depender disso. A ansiedade da revelação de tempos atrás foi substituída pela fissura das curtidas alheias. É tudo tão instantâneo que o velho e bom álbum sumiu junto com os filmes fotográficos. O importante é a popularidade da foto no aqui-agora. Posteridade? Quem precisa disso?
A verdade é que essa mudança no ato de fotografar se reflete também nas relações, que se tornaram descartáveis e instantâneas. É isso mesmo, ou é só nostalgia?
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