Reveillon
10, 9... Aquela contagem regressiva veio em boa hora. Era a chance de Lívia zerar a alma. Se é que isso é realmente possível. Zerar a alma significa passar uma borracha no passado e deixar a folha em branco, limpinha, pronta para receber palavras novas. Quiça desenhos. Coloridos! Sorriu. 8, 7... Entre um número e outro, Lívia puxou o ar. Encheu o peito com ânimo. E imaginou ser aquele um ar mágico. Cheio de partículas revigorantes, capazes de transformar sua frágil auto-estima em uma super-auto-estima. Turbinar sua força de vontade, nem que seja à força. Ao entrar nos pulmões, o ar, novo, deu novo fôlego à velha Lívia. 6, 5... Lívia alisou o vestido branco com um quê de ansiedade. E lembrou-se então da calcinha nova, rosa como o amor. De algodão, simples e funcional como seu sonho. Sonho de um amor descomplicado. Puro. Adolescente. Sem rendas nem fitas. Um amor de algodão. Rosa. 4, 3... Não faltava muito, pensou Lívia. Dois míseros números a separavam da sua ...