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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

Depois do match

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Virgínia chegou no bar e ele já estava na mesa ("milagre, eles sempre se atrasam", pensou, sorrisinho de lado). Levantou-se rápido ("oba, ele é bem alto!"), cumprimentou com um beijo respeitoso, puxou a cadeira pra ela. "Aquele encontro prometia", comemorou em pensamento. "Sabia que, um dia, esse aplicativo ia servir pra alguma coisa". Cavalheiro, ele chamou o garçom, pediu a cerveja, uma água pra acompanhar, e sugeriu o petisco. Tirando os jargões típicos de um advogado e palavrões demais pro seu gosto, o papo fluiu bem. E a cada cerveja - que ele bebia bem rápido - a conversa foi se tornando... reveladora. - Detesto carnaval. Esses bloquinhos espalhados por aí sujando a cidade, incomodando gente de bem... odeio. Um bando de desocupados, isso sim. E um monte de gays, esse povinho. - Alguma coisa contra os gays, Caio? - Não, não, nada... desde que eles não fiquem muito perto de mim. Daí em diante, foi ladeira abaixo. - Fiquei casado 1...

Retratos

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Não faz tanto tempo assim: tirar foto era uma decisão difícil. Você tinha que ter certeza de que aquele momento, aquela paisagem, a situação toda merecia um pedacinho do seu caro filme. Trinta e seis, vinte e quatro, doze... ah, os filmes de doze poses, então! Que medo de gastar o clique em algo idiota. Era uma decisão e tanto. Não só pelo dinheiro, mas pela escolha. Fotografou aqui, faltou filme pra fotografar mais adiante. Valia a pena? Medo. E a ansiedade em ver o resultado? Aquela espera gostosa (às vezes angustiante)... Pagava-se até mais pela revelação express, um luxo. E se suas fotos tinham conteúdo mais, digamos, íntimo, era melhor evitar as lojas do shopping. Elas revelavam suas fotos sob o olhar curioso do público. Era uma atração! Vira e mexe apareciam uns nudes. Quase nunca se viam selfies. Também, né, quem gastaria filme com fotos de si mesmo? Quer se ver, vai até o espelho, pô. Mas então... então vieram as câmeras digitais. E depois os celulares com câmeras. Um...