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Mostrando postagens de abril, 2019

A dor que é sair do casulo

"O transe da ayahuasca já passou", pensou Lígia. A sensação que tinha era de torpor, tipo quando a gente volta da anestesia. Só que, nesse caso, uma anestesia às avessas. Durante o “sacramento”, Lígia sentiu tudo com uma intensidade quase insuportável. Sons, luzes, toques. E foi ruim. Foi confuso. Não teve nenhum grande insight, não viu nada com nitidez, mal saiu do banheiro... um mal-estar terrível a acompanhou quase o tempo todo. Parece que ela precisava colocar pra fora coisas bens ruins e fedidas. Pelo menos foi como ela entendeu e, assim, ficou mais conformada. Quando não estava no banheiro, estava lidando com sua solidão - ilustrada por várias alucinações escuras e disformes. Essa foi a revelação: Lígia estava só e triste. Vez ou outra, vinha um conforto: “é um processo, confia. Dê tempo ao tempo”. Mesmo assim, era uma tristeza doída, que se converteu em lágrimas grossas que molharam todo seu rosto. Impossível parar de chorar. Estava se permitindo sentir tristeza e ...