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Acaso?

Não parece ser por acaso que as coisas acontecem.  E falo isso não por conformismo (q ue eu não sou mulher de ver a vida passar pela janela). Mas sinto o curso do rio mudando, me levando pra outra direção, simplesmente porque ali atrás tinha uma ligeira curva. Não é confortável seguir por um caminho que não se esperava. Mas não é de todo ruim. Só é... estranho. E solitário também.

Fogo

Hoje eu tô à flor da pele. Diferente, sensual, libidinosa. Um calor percorre o corpo - sem curso definido. Enquanto pensamentos ganham contornos proibidos e sensações chegam sem aviso. Rio. Rio dessa urgência que não tem endereço. Desse frenesi que aquece, que inquieta, que me deixa alerta. E pronta.

Eu já

Já  fui Miss Caipirinha na escola. Já fui goleira do time (masculino) de futebol do bairro. E já tive minha sexualidade questionada por conta disso - pela minha própria mãe! Já fiz e vendi geladinho e pipa pra arrumar dinheiro e gastar com doces e figurinhas. Anos depois, vendi pão de queijo feito pela mamãe nas filas do banco e da farmácia. Mas daí era pra ganhar uns trocados e comprar papéis de carta. Já fui professora de catecismo. E estudei em colégio de freiras por 4 anos. Já levei suspensão por cabular - foi nesse tal colégio de freiras, inclusive. Já fiz mapa astral (cobrando) sem conhecer muito de astrologia. E assinei coluna de horóscopo num jornalzinho. Usando pseudônimo. Já fui vocal de uma banda cover de rock de garagem. Já dei aula de violão pra iniciantes. Já entrevistei jogadores de futebol em vestiário - e, sim, eles andam por ali nus. Já beijei um jogador de futebol, mas ele estava vestido. E foi só um beijo. Já fui corretora de imóveis, por 3 meses. Gostei. Já fiz...

Pílulas

A gente encontrar a felicidade em coisas absolutamente ridículas, banais, como enrolada no cobertor, assistindo pela enésima vez um episódio de Seinfeld, acompanhada de restos mortais de um ovo de páscoa. Ou em um banho de banheira demorado, lendo crônicas de Fernando Sabino. Outro dia encontrei a felicidade jogando Banco Imobiliário com meu filho, quando tirei a carta "sorte" e embolsei duzentinhos. Pois é. A felicidade vem em pílulas. São momentos curtos (e nem precisam ser tão intensos)... E têm prazo de validade limitado. Já a tristeza parece empacotada a vácuo. Ela dura bastante, até demais, quem azeda é a gente.

Uma garrafa já basta

  "O primeiro encontro é como uma infindável entrevista de emprego. A diferença básica entre eles é que, num encontro, as chances de alguém acabar nu aumentam consideravelmente." Ambos incômodos, mas necessários. E o término desnudo de um primeiro encontro é pra mim, digamos, pouco provável. Não por puritanismo, longe de mim. Mas por total falta de sincronismo. Ou pela ausência de um bom vinho tinto (esse sim, infalível).

Sobremesa

  É como naquele antigo comercial de carro. Você sonhava com um sundae de chocolate e acabou se contentando com um sorvete de casquinha. Começo a desconfiar que tenho feito isso nos últimos anos. Abri mão de alguns sonhos e metas e me contentei com protótipos malfeitos, que pareciam dar conta do recado mas que, afinal, não eram exatamente aquilo que queria. Carreira, amor, amigos, ideais... Tudo foi se perdendo ao longo do tempo e hoje uma grande colcha de retalhos se formou. Longe de ser o aconchegante edredom que sonhei pra mim. Ainda há tempo de dar um (ou vários) bastas nos era-quase-isso e ir em busca do que realmente eu quero. Tá em tempo de saborear meu sundae de chocolate, adereçado por cereja, canudinho waffer, cobertura de caramelo e farofa crocante. (2012)

Sonho meu

  - O que você quer fazer da vida? - Eu já faço tanta coisa, eu trabalho com mil coisas ao mesmo tempo e aind... - Não, não. Pára. O que você QUER? - Querer? Bom, eu, ãh... não pude realmente pensar nisso, eu... eu tive que fazer sem perguntar se realmente queria. A vida é dura, sabia? - Mais dura ainda pra quem não sabe o que realmente quer e vive por viver. - É. (silêncio, daqueles que incomodam) - Eu queria trabalhar com cinema. - Hum... - Queria parir um filme meu. Uma ideia minha. Ah, também queria escrever um livro. Ou melhor, vários livros. Na real, queria viver de escrever, sabe? Faria meus textos na varanda de uma casa no meio do mato. Uma limonada gelada, meio aguada, sempre do lado. O canto dos passarinhos e um calorzinho aprazível, de começo de outono. Várias ideias na cabeça, dedos ágeis e boas críticas arquivadas. Não teria nenhum pudor. Nada de roteiros inacabados na gaveta, como tenho hoje. Nada de medo do amanhã, de pressão por resultado, de auto-sabotagem. Seria l...